[Miguel Fonseca]
[Miguel Fonseca]
A Casa da Música certamente leu o post da Ana Leite: "O Mito é o nada que é tudo", e eis que somos presenteados, já na próxima terça-feira (dia 23 de Março) pelas 19:30, com um Tributo a John Cage. Este espectáculo insere-se no Remix Essemble.
Podem ver mais informação aqui, onde encontram esta e outras assinaturas, como já tinha referido num post anterior.
Mais um evento a estar atento!!
Update - 29 de Março de 2010:
Podem ver aqui algumas fotos do evento: Fotos - Tributo a John Cage
Foi ao som de Beirut, “Elephant Gun”, que comecei a escrever este post. Às vezes a inspiração começa com momentos destes: ou se agarra de imediato ou perdemo-la para sempre.
Um pouco no seguimento do post do Pedro Leite, gostaria de escrever algo que o artigo “Vale-tudo na arte?”, despoletou. Inúmeros foram aqueles que se debruçaram sobre o conceito de arte e sobre a noção do belo. Recordo-me que, quando estudava, abordamos na disciplina de Estética diferentes autores, cada um deles com a sua teoria sobre o belo e sobre a arte. Lembro-me que um dia propus-me abordar, nessa cadeira, as vanguardas artísticas dos anos 60. Foi uma das apresentações da minha vida, aquela que me deu mais prazer, que me deu mais emoção, aquela que estive bem, contrariando a minha habitual timidez nestas coisas.
As vanguardas artísticas dos anos 60: as performances, as instalações e outros tipos de produção artística, surgiram como alternativas à arte convencional. Por esta altura surgiu o Grupo Fluxus, formado por um conjunto de artistas que contestavam o sistema museológico, a arte convencional, a beleza atribuída às obras de arte com uma postura radical e revolucionária que visava destruir convenções e valorizar a arte colectiva. Influenciados por Marcel Duchamp na plástica e Jonh Cage na música, o grupo produzia concertos, happenings, performances, entre outras manifestações.
Para terminar e tal como Fernando Pessoa escreveu na obra “Mensagem”, também a arte é, para mim, o nada que é tudo.
Deixo-vos uma composição de Jonh Cage, “4’33”, com a qual ficou célebre. Composta em 1952, são 4 minutos e 33 segundos de música sem qualquer nota musical.
Sexta-feira, final do dia, e carregando o cansaço de uma semana de trabalho, dirijo-me para o metro para retornar "a mi hogar". Olho para o lado e reparo num improvável palco. Trata-se de um dos locais onde a Metro do Porto está a apresentar o evento Musica na Rua. Desde o día 1 de Março é possível desfrutar de concertos nas estações do Bolhão, Trindade e Casa da Música, que decorrem sempre entre as 11H00 e as 14H00 e entre as 17H00 e as 20H00.
Depois de assinalar o aniversário da Casa da Musica, senti que seria importante realçar este evento, pois trata-se de uma abordagem à musica extremamente apelativa para o público, e ao mesmo tempo dá a oportunidade a bandas e grupos menos conhecidos de fazerem aquilo que gostam mais: tocar!
Assim um local normalmente de passagem rápida, torna-se um palco informal e improvisado, mas ao mesmo tempo intimista. Parar e ouvir algo que nos agrade, enquanto o mundo passa sem dar atenção, dá a oportunidade de conhecer algo novo e emocionante. Dou os meus parabens à Metro do Porto pelo evento e espero que outras organizações prestem atenção, para que possam surgir eventos com o mesmo espírito. Penso que a cultura só tem em ganhar ao deixar-se levar para lugares desconhecidos!
Enquanto pensava neste post, lembrei-me dum site francês La Blogoteque, onde entre outras coisas é possível vídeos (com uma excelente produção) de micro-concertos de bandas em locais improváveis. A sensação de improvisação que sentimos dos músicos, e a deslocação do palco para um apartamento ou mesmo para rua, torna os vídeos um verdadeiro prazer. Ver Arcade Fire a tocar num elevador, Bon Iver num apartamento parisiense incógnito, ou Beirut a tocar junto a uns contentores do lixo é no mínimo divertido.
Como alguém disse: "A cultura tem muita mais piada sem formalidades e em locais improváveis."
E é já no inicio do próximo mês, que se assinala o quinto aniversario da Casa da Musica, mais precisamente dia 11 de Abril.
Criticada por por muitos, amada por outros, é indiscutível a importância que esta casa tomou na vida cultura (e não só) do Porto, tornando-se já um ponto de referência, e atrevo-me até, um ícone!
No entanto, criou-se um estigma em relação ao edifício, devido a derrapagens orçamentais, que no entanto não escapam à realidade das grandes obras nacionais (e admitemos, internacionais!). Pessoalmente embora compreenda as criticas, penso que não devemos deixar de lado uma obra tão importante, para a cidade, para o país, e principalmente para a Cultura. Ainda mais quando a Casa da Musica oferece diversas assinaturas, onde podemos usufruir de excelentes concertos, dos mais diversos estilos, a um preço muito acessível.
Quem já viu e ouviu um concerto na Casa da Musica, não terá duvidas que será um dos melhores locais mundiais para se ouvir musica com a qualidade merecida Fico desapontado por ver que demasiados concertos fogem da Casa da Música por questões financeiras, isto é, para locais onde potencialmente se poderá vender mais lugares. A titulo de exemplo, lembro-me logo de Diana Krall no pavilhão Rosa Mota, onde o som foi no mínimo discutível, e um estrondoso concerto de Joan as Police Woman na "modesta" sala 2 da Casa da Musica, onde só podemos elogiar a acústica e o som.
Mas concluindo, penso que outras casas igualmente importantes para a cidade, como o Coliseu entre outros, devem ter o orçamento necessário para apostarem mais em equipamento, para que seja possível ouvir musica, com qualidade, e não fiquemos com aquela sensação no final de um concerto: "podia era ter sido na Casa da Musica".
Desta forma, o “Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura” poderá mostrar que a cultura se faz com o envolvimento de todos os agentes da sociedade e que através do trabalho em rede, em prol de um objectivo comum, é possível uma gestão de recursos mais sustentável, bem como apresentar um produto cultural com qualidade.
Para Gabriela Canavilhas, "o sector cultural tem potencialidade e que, devidamente estimulado, pode gerar retorno económico". Referiu ainda que é chegada a hora de "reorientar e repensar estratégias", que permitam contrariar o estado de subsidio-dependência em que se encontra o sector.
Desta forma, o Primeiro Ministro parece cumprir aquilo que prometera no Fórum Novas Fronteiras sobre cultura, aquando da campanha legislativa, tendo referido, na altura, que, à semelhança da "aposta do Governo no conhecimento, na ciência, na tecnologia e na inovação" ao longo do mandato passado, a Cultura seria "uma prioridade", e que pretende "valorizar o que é hoje um elemento essencial na dinâmica do país" e "na dinâmica económica", como também "para o enriquecimento individual" dos indivíduos."
Acreditamos que são os primeiros passos para a valorização do sector, mas estaremos atentos às políticas desenvolvidas pelo Governo Central, nesta área.
Desta forma gostava que me deixassem a vossa opinião destes projectos e informações de outros relevantes para a valorização da Memória com um toque de modernidade!
Termino com a sugestão do concerto dos Diabo na Cruz no Passos Manuel (Porto) dia 5 de Março pelas 22h30.
O Passado, dá-nos um sentido de identidade, de pertença e torna-nos mais conscientes da nossa continuidade como pessoas através do tempo. A nossa memória colectiva moldada pelo passar do tempo não é mais do que uma viagem através da história, revisitada e materializada no Presente pelo legado material do Passado que é composto por símbolos particulares que alimentam no ser humano a reconfortante sensação de permanência no tempo e o sentimento de pertença e partilha de algo comum com as pessoas com que nos deparamos no nosso dia-a-dia, nas mais variadas situações. Os objectos do Passado proporcionam estabilidade ao nosso Presente e permitem-nos e pensar e idealizar o Futuro, pois se o Futuro é aquele destino essencialmente incerto e o Presente aquele instante fugaz, a única certeza que o ser humano possui é a verdade irrefutável do Passado.
Texto realizado em colaboração com Vanessa Monteiro em 2008 in "Ponte para Ti, Pitões para Mim"
Um dado importante, ao qual não podemos estar alheios, e que vem no seguimento do post da Ana Leite, Cultura: um sector estratégico para o país: